Os computadores são de Vénus e as pen de Marte

A tecnologia está a mudar o nosso dia-a-dia, inclusivamente os nossos relacionamentos amorosos. Mas acredito que o contrário também possa ser verdade, há muito de humano na forma como a tecnologia se relaciona. 

Eu só posso imaginar que para um computador ser penetrado por uma pen USB não deva ser uma experiência agradável. Pomos a pen e o computador começa literalmente a contar o tempo que falta até terminar a operação: “Faltam 3 minutos e 52 segundos”. 

Outras vezes, o computador precisa saber antes se a pen tem vírus. E é muito útil, porque se tiver vírus, muitos dos computadores fazem logo a limpeza. É como ir para a cama com uma enfermeira que tem já uma injecção de penicilina preparada. 

No mundo electrónico não há lugar a preliminares. Não há uma carícia, um miminho, um afecto, enfiamos logo a pen sem avisar. E claro, a pen nunca entra à primeira: primeiro tentamos enfiá-la no buraco errado, e depois quando finalmente acertamos no buraco, metemo-la ao contrário. Os computadores têm critérios, são selectivos e gostam de verificar por onde é que a pen andou, e estão sempre prontas a corrigi-la. O facto de os computadores terem as entradas permite-lhes ser picuinhas na hora de escolher as pen, e não aceitam qualquer uma. Não deve haver coisa mais humilhante para uma pen que entrar num computador e o computador não dar por nada. A pen entra toda direitinha e confiante, e depois o computador não a reconhece. Volta a tentar e nada. “Dispositivo não reconhecido, tente novamente”. Mas justifica-se que o computador seja assim, pois sabe que as pen não são esquisitas, são capazes de entrar em qualquer coisa; de modelos mais velhos aos computadores mais recentes, o importante para a pen é que tenham buraco. 

As pen e os computadores têm ritmos muito diferentes. Uma pen pode retirada sem aviso prévio, mas o computador não fica contente. Quando a pen se despacha demasiado rápido o computador fica tão frustrado que faz um som desagradável e protesta: “o seu dispositivo foi removido sem autorização”. Como qualquer um, o computador gosta que esperem por si, até que ele finalmente se sinta satisfeito, e possa autorizar a remoção da pen: “O dispositivo pode agora ser removido”. E esse é o final perfeito, estão ambos saciados e podem seguir o seu caminho. 

Há também aqueles que nunca mais foram os mesmos depois de andarem metidos com o computador ou pen errados. Para esses, tal como as pessoas, o melhor é mesmo formatar e começar de novo.

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