Nossa Senhora das Suculentas

Dia de jogo do Benfica. Convido um amigo para ir lá a casa ver o jogo e beber umas cervejas. Dois gajos a ver a bola e a beber cervejas. Mais macho que isto só se falássemos de mulheres enquanto desmanchávamos uma peça de caça, no meio de arrotos.

Acaba-se a cerveja, pelo que vou à cozinha buscar mais uma litrosa. O meu colega de casa tinha convidado uma amiga para jantar e apresenta-ma: “André, esta é a não sei quantas; não sei quantas, este é o André.” (Não me lembro do nome dela, pelo que vou chamá-la de Não Sei Quantas. Sempre tive uma queda por nomes bíblicos). Aí, a não sei quantas, que conheço há menos tempo do que aquele que o meu cérebro precisa para processar uma cara nova (daí a minha dúvida quanto ao seu número exacto de narizes), diz-me do alto da sua autoridade moral: “Devias cuidar melhor das tuas plantas”. Quem é que a não sei quantas pensa que é, a Madre Teresa do Filodendro? A Santa Padroeira das Suculentas? A Nossa Senhora do Substrato?

Fiquei a saber que sou o maior inimigo das plantas desde a invenção do escaravelho das palmeiras, um herbicida em série. Para a recém-conhecida sou alguém que faz das plantas prisioneiras e as tortura durante anos. Tivesse eu a tentação de acasalar com as minhas yuccas e seria o Josef Fritzl da botânica.

Umas plantas apanham demasiada luz e outras, luz a menos, afiança-me ela. Isto ofende-me, pois faço grelhados há muitos anos e sei ver quando uma coisa está bem ou mal passada. “Se quiseres, posso cuidar delas”, continua. De repente, tratar das minhas plantas tornou-se para a não sei quantas um projecto de voluntariado, uma missão de salvamento. Mais um pouco, e acorrenta-se ao meu clorófito em protesto. Felizmente estávamos a meio de um jogo do Benfica e eu tinha uma litrosa na mão, o que significa que os meus níveis de testosterona estavam elevadíssimos, pelo que digo: “Sou um homem. Ninguém me diz como é que eu devo tratar das minhas plantas”.

Plantas

Ainda não disse às minhas plantas que foram adoptadas.