A diferença entre caroços, pevides e grainhas


Partilhar casa com outras pessoas pode ser difícil. Mas às vezes tem-se sorte. Tive, em tempos, o privilégio de ter um colega de casa particularmente iluminado. Para proteger a sua identidade, chamemos-lhe apenas Sr. Grainha. Uma vez, enquanto partilhava casa com este misterioso personagem, encontrei caroços de laranja no lavatório da casa de banho. Falei com o senhor, que prontamente me corrigiu, explicando que não eram caroços mas sim grainhas (daí o epíteto), uma vez que provinham de umas laranjas pequeninas.

Como é óbvio, fiquei muito mais descansado. Por momentos acreditei que tinha encontrado caroços no lavatório, o que seria manifestamente bizarro. Felizmente eram apenas grainhas, que aqui não somos bárbaros. Trata-se de uma situação perfeitamente normal, algo que se devia se ver mais nos lares portugueses e não apenas em instituições psiquiátricas. Só de pensar que gastei mais trinta anos da minha vida a acreditar que as grainhas e caroços devem parar o caixote do lixo, dá-me até vontade de pegar numa courgette e serrar os pulsos. Que privilégio ter alguém capaz não só de me apontar as fascinantes diferenças entre o caroço, a pevide e a grainha, E de me dizer quais os tipos de fruta mais indicados para as diferentes zonas do W.C.

Infelizmente este inquilino anónimo (se estão para aí a achar que o nome dele é Fernando, podem tirar o cavalinho da chuva, que ele não se chama Fernando e o cavalinho ainda se constipa) saiu de casa antes de me poder iluminar para outras questões essenciais. Fiquei, por exemplo, sem saber se os caroços de pêssego se devem atirar para a banheira ou para o bidé, se cascas de melancia podem ir à máquina, se as alfaces se lavam juntamente com a roupa branca ou a roupa de cor, ou se para mexer a sopa é melhor usar a cabeça do chuveiro ou o piaçaba.

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