Fotobiografia dos Pastorinhos

As 4 fotografias conhecidas dos Pastorinhos representam um inestimável documento histórico. Reflectem tensões internas e as lutas de poder no seio do grupo, bem como aspectos das personalidades de cada um dos videntes: Jacinta, a mais nova, é uma criança emotiva, que chora sempre que come glúten. Francisco, seu irmão mais velho, distingue-se pelo talento musical, que se manifesta sobretudo quando se põe a balir. Lúcia, prima de ambos, é a personalidade dominante do grupo, fruto de uma maturidade precoce: aos 10 anos já tinha a cara de um homem de 40.

 A primeira fotografia dos Pastorinhos coincide com a primeira Aparição da Virgem. Profundamente crentes, Jacinta e Francisco seguram velas, pedindo a Nossa Senhora que lhes dê lume, para poderem acender as velas e rezar a Nossa Senhora a pedir lume. Lúcia, que na altura era budista, converte-se ao Catolicismo. Ao escutar o primeiro segredo de Fátima diz “fónix!!”, seguido de “Amén”. Nossa Senhora pede aos pastorinhos para sorrirem para a fotografia. Os videntes, que nunca tinham visto um sorriso na vida, deformam o rosto e abrem a boca. Será a última vez que os Três Pastorinhos mostram os dentes em público.



A segunda fotografia dos Pastorinhos foi tirada pela própria Virgem, que se desequilibra na descolagem após mais uma Aparição, o que explica a linha do horizonte torta. Solidários com a falta de destreza de Nossa Senhora, os Pastorinhos são obrigados a uma bizarra inclinação de pescoço, e aprendem da pior maneira o que é o esternocleidomastoideo. O semblante concentrado de Lúcia, e o ar piedoso, algo condescendente, de Francisco, contrastam com a ostensiva falta de empenho de Jacinta, que não terá passado despercebido a Nossa Senhora. O esforço de Lúcia e Francisco é recompensado pela Virgem, que oferece a ambos um pacotinho de nozes, que Lúcia abre usando o seu forte maxilar inferior. Pelo contrário, Jacinta recebe uma alergia a frutos secos, e começa a sentir-se excluída dentro do grupo. A harmonia entre os videntes é definitivamente quebrada. 

 A proximidade entre Francisco e Lúcia revela-se de curta duração, e na terceira fotografia são já notórias divergências no seio do grupo. Francisco confronta Lúcia com o facto de ficar sempre ao centro nas fotografias, mostrando a sua vontade de também querer ficar ao meio. Lúcia, que foi ao cabeleireiro de propósito para esta fotografia, rejeita as intenções do primo. Esta imagem é, assim, precedida de uma violenta discussão, que culmina com uma dentada de Lúcia na cabeça de Francisco. Jacinta, transtornada, apercebe-se como o poder corrompeu a prima. 

 Na última fotografia, talvez mais conhecida dos Pastorinhos, é evidente o desgaste interno. A fotografia, feita a pedido de Nossa Senhora para imprimir numa caneca, mostra uma Jacinta cada vez mais inconformada com o facto de ficar sempre na ponta. De mão na anca e olhar desafiador, jura para nunca mais. Lúcia e Francisco já não se falam. Melindrado pelos incidentes da fotografia anterior, Francisco desta vez trouxe um pau, e ameaça bater em Lúcia se esta não lhe der o lugar do meio na fotografia. Lúcia concede, guardando um profundo ressentimento pelo primo. Para Francisco, no entanto, trata-se de vitória com sabor amargo: apercebe-se que cometeu o faux pas de vestir exactamente a mesma roupa das três fotografias anteriores. A Virgem tenta aligeirar o ambiente contando uma anedota racista, mas sem sucesso. Será a última vez que Nossa Senhora vê os Pastorinhos, que viriam a separar-se pouco depois. 

 Francisco e Jacinta abandonam os Pastorinhos, acusando publicamente Lúcia de não saber guardar um segredo. Francisco tenta seguir uma carreira no mundo do espectáculo, fazendo imitações de ovelhas famosas de Aljustrel. Jacinta acalenta o sonho de juntar as profissões de varina com a de ilusionista, e se tornar uma varina mágica. Acabam ambos por morrer de gripe pneumónica, sendo finalmente canonizados em 2017. Lúcia, que não era nenhuma santa, não tem melhor destino: passa o resto da vida a cumprir pena em diversos estabelecimentos conventuais, sendo transferida com regularidade por mau comportamento. Até à data da sua morte, em 2005, continua a receber visitas da Virgem, que a consolava e lhe levava nozes e outros frutos de casca rija.



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